As bonecas nem sempre foram brinquedos. Começaram a ser feitas ainda no tempo das cavernas e tinham quase sempre uma simbologia relacionada com a fertilidade feminina. Eram rudimentares e feitas de pedra e/ou de terracota. Existiram bonecas em todas as civilizações, representando valores humanos, históricos e culturais de destaque. Desconhece-se, contudo, quando deixaram de exercer um poder simbólico para passarem a ser brinquedos infantis. O que se sabe é que se popularizaram aquando da multiplicação das industrias na Europa, durante o século XVIII. Desde então, vários materiais foram utilizados para fabricá-las como madeira, loiça, pano e plástico. As bonecas de pano, de indústria domestica e tradicional, tornaram-se expressões da Arte Popular das regiões de origem, pelos trajes, cores e outras preferências. Na primeira metade do século XX, nos Açores, as bonecas de pano eram um dos poucos brinquedos ao alcance das crianças. Numa época de fracos recursos e numa atitude de economia eram confecionadas à mão, com retalhos de tecidos usados e decoradas com detalhes bordados o que lhes conferia expressividade e aconchego. Isaura Rebelo teve a sua primeira boneca de pano, aos 9 anos, feita pela sua avó paterna. Guardou-a religiosamente até hoje, como forma de perpetuar as memórias de infância, a ternura e o afeto familiar. Muitos anos depois repetiu o gesto, fazendo para a neta uma boneca de antigamente, impressa de afetos e de tradição. Na formação em São Jorge, a artesã Marta Furtado irá ensinar a fazer o corpo da boneca de pano, as roupas inspiradas nos trajes regionais, o cabelo de lã e a cara bordada à mão.